O desdobramento da segunda fase da Operação "Penalidade Máxima", que começou pela investigação de resultados da Série B do Campeonato Brasileiro de 2022, avançou pela Série A, alguns torneios estaduais e atingiu até mesmo a Copa São Paulo de Futebol Júnior. Pelo que se sabe até agora, o esquema de fraudes visa beneficiar apostadores em conluio com determinados atletas, muitos deles em atividade ou que tiveram passagem por grandes clubes.
A entrada de novos personagens e instituições aumenta à medida que as investigações avançam e colocam, sob suspeição, a lisura nos resultados dos jogos e campeonatos. Até agora, clubes, dirigentes, árbitros e empresas patrocinadoras estão conseguindo manter-se a uma distância segura do maior escândalo esportivo desde as Máfias do Apito (2005) e das Loterias Esportivas (1982).
Desde a primeira notícia de impacto publicada no final de fevereiro (MP investiga fraudes em jogos da Série B para beneficiar apostas) e que gerou a coluna “Relações entre apostas e futebol são antigas”, em Tabus, Tretas e Troças, o tumulto só aumenta e este breve resumo informativo, do dia 10 de maio, mostra que a dimensão da encrenca só tende a crescer:
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O caldo começou a entornar de vez, em meados de abril, quando o Ministério Público de Goiás (MP-GO) começou a apurar se atletas de Santos e adversários do Palmeiras, o campeão brasileiro do ano passado, receberam propina para cometer infrações que beneficiassem apostadores.
Logo de imediato, membros do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) avaliaram que não há a possibilidade de anulação ou mudança de resultados, pois entendem que a investigação, até agora, apontou apenas supostos cartões propositais, o que seria uma interferência menor no jogo e que o atual Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) não permite alterações em placares após o final da competição.
O entendimento inicial é que as acusações não se referem aos clubes envolvidos nos torneios nem aos sites de apostas, mas sim a pessoas e jogadores suspeitos de combinarem cartões amarelos e vermelhos recebidos propositadamente para que alguém ganhasse as apostas. Esportivamente, os efeitos seriam processos contra jogadores, técnicos e dirigentes supostamente envolvidos, com possibilidade de suspensão e até banimento dos atletas, segundo a legislação esportiva.
Em depoimento à imprensa logo no início das investigações, Rodney da Silva, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-GO afirmou que a questão do financiamento, do custeio e do patrocínio das casas de apostas em relação a praticamente todos os clubes brasileiros é uma coisa que precisa ser discutida. “A pergunta é a seguinte: isso é uma fonte de renda para os clubes? Isso faz com que os clubes se omitam? Porque indícios acontecem. Será que os clubes não têm capacidade de identificar situações como estas?”, questionou.
Em nota, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) disse apoiar toda e qualquer ação legal que traga transparência e lisura aos campeonatos que organiza e a todo o
esporte brasileiro e que investe uma quantia importante e vultosa no rastreamento e monitoramento de partidas. “Interferências externas em resultados ou em situações de jogo são uma epidemia global que, para ser solucionada, precisa punir de forma exemplar e urgente, os responsáveis por essa prática nefasta”, conclui.
Entenda o caso
Segundo o MP-GO, o grupo criminoso cooptava jogadores com ofertas que variavam entre R$ 50 mil e R$ 100 mil para que cometessem lances específicos nos jogos, como um número determinado de faltas, levar cartão amarelo, garantir um número específico de escanteios para um dos lados e até atuar para a derrota do próprio time. Diante dos resultados previamente combinados, os apostadores obtinham lucros altos em diversos sites de apostas – diretamente ou por meio de terceiros. As denúncias são por organização criminosa e fraude ao Estatuto do Torcedor. Estão em curso diversos mandados de prisão preventiva e de busca e apreensão contra jogadores, empresários e apostadores, numa operação coordenada em diversos estados e cidades. O escândalo só deve aumentar nos próximos capítulos.