Só em ouros, o Brasil Paralímpico, com 25, superou o total de todas as medalhas do Brasil Olímpico (20); e é por isso que, a cada edição, o nosso país vem se consolidando e sendo considerado como uma potência paralímpica. A evolução brasileira é visível desde os Jogos Paralímpicos de Pequim (2008), quando conquistou 47 medalhas e terminou na nona colocação no quadro geral de medalhas. De lá para cá, a delegação verde e amarela se manteve entre os dez países que mais conquistaram medalhas. Foram 43 em Londres (2012) e a sétima posição; 72 pódios no Rio de Janeiro (2016) e o oitavo lugar; e novamente 72 medalhas em Tokyo (2020), porém na sétima posição geral.
O recorde brasileiro foi alcançado já no penúltimo dia das competições em Paris e garantiu ao Brasil a sua melhor campanha geral em uma edição das Paralimpíadas. No balanço final dos Jogos, os atletas brasileiros subiram ao pódio 89 vezes na capital francesa, conquistando 25 medalhas de ouro, 26 de prata e 38 de bronze, chegando ao quinto lugar, o melhor resultado da história. No total de medalhas, ficou na quarta colocação, atrás apenas da China, Grã-Bretanha e Estados Unidos. Mais que isso, em Paris-2024, o Brasil teve o melhor desempenho entre todos os países do Hemisfério Sul e as imagens das conquistas de nossos atletas serão eternizadas e inspirarão as novas gerações.
O Brasil enviou a Paris a maior delegação da sua história. Foram 280 atletas, sendo 255 com alguma deficiência, 19 atletas-guia (18 do atletismo e 1 do triatlo), três calheiros de bocha, dois goleiros do futebol de cegos e um timoneiro do remo. O objetivo de chegar ao número mágico do recorde de Tokyo e ficar na meta de obter entre 70 a 90 medalhas e alcançar o Top 5 já vinham se mostrando possíveis, graças a um bom ciclo, aos treinamento em centros de excelência no Brasil e as diversas participações em importantes competições internacionais.
Em Paris-2024, o Brasil não competiu apenas nas modalidades do basquete e do rúgbi, ambas em cadeira de rodas, e 100% das medalhas conquistadas com a marca do Bolsa Atleta, programa de incentivo governamental.
As conquistas dos atletas paralímpicos merecem ser comemoradas e muito, pois brasileiros com deficiência convivem com grandes dificuldades em seu dia a dia. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), de 2022, cerca de 18,6 milhões de brasileiros possuem algum tipo de deficiência, 8,9% da população. Segundo o levantamento, o Brasil ainda tem um longo caminho a trilhar para incluir pessoas com deficiência (PCD) nos segmentos que envolvem educação, trabalho e cultura:
O analfabetismo alcança 19,5% entre PCDs, contra 4,1% na população sem deficiência.
Apenas 25,6% das PCDs haviam concluído o Ensino Médio, contra 57,3% das pessoas sem deficiência.
O nível de ocupação de PCDs no mercado de trabalho é de 26,6%, frente a 60,7% registrado entre a população brasileira.
Os PCDs têm renda média de salário e remuneração 30% menor (R$ 1.860 contra R$ 2.690 na época) que pessoas sem deficiência.
Movimento levado a sério e futuro promissor rumo ao Top 3 em 2028
Os grandes obstáculos para a inserção escolar e no mercado de trabalho somadas à falta de políticas públicas mais efetivas para esta população podem ser apontadas como um dos motivos que tem levado muitos PCDs a recorrerem ao esporte de alto rendimento, onde há acolhimento, apoio e infraestrutura muito maior que em outros setores. E à frente desse movimento de inclusão está o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), que tem um papel fundamental na ampliação e na visibilidade do esporte paralímpico no país desde fevereiro de 1995, quando foi criado.
Os bons resultados apareceram já em Atlanta (1996), com 21 medalhas e a 37ª colocação no quadro de medalhas; e foram avançando em Sydney (2000), com 22 medalhas e o 24º lugar; e em Atenas (2004), com 33 medalhas e o 14º lugar. Em Barcelona (1992), antes da criação do CPB, o Brasil conquistou apenas 07 medalhas e ficou na 32ª posição. De Pequim (2008), a Paris (2024, o Brasil sempre esteve entre os dez melhores.
A consolidação do Brasil como Potência Paralímpica também contou com a sanção da Lei Agnelo Piva, em 2001, que estabeleceu o repasse de 0,95% das loterias da Caixa Econômica Federal para o CPB. Grandes marcas do mercado também aumentaram a sua participação como patrocinadoras, apoiadoras e fornecedoras de algumas modalidades paralímpicas ou do comitê, o que vem permitindo mais investimentos em infraestrutura e no desenvolvimento do esporte adaptado no país.
O movimento também ganhou impulso com os Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro e olegado do Centro de Treinamento Paralímpico, construído em São Paulo. O complexo conta com instalações esportivas indoor e outdoor para treinamentos e competições de 15 modalidades, área residencial com alojamentos, refeitório, lavanderia e um setor administrativo com salas, auditórios e outros espaços.
Em 2017, o CPB passou a difundir centros de referência que aproveitam espaços esportivos para oferecer modalidades paralímpicas, da iniciação ao alto rendimento. São 72 deles presentes em todas as regiões e estados do Brasil.
No mesmo ano foram criados os programas de desenvolvimento esportivo com os festivais paralímpicos. Em 2023, os eventos aconteceram em 119 cidades e proporcionaram que mais de 40 mil crianças tivessem o primeiro contato com o esporte paralímpico.
Com tantas ações coordenadas de incentivo e o desempenho obtido na França, o futuro do esporte paralímpico promete! Que possamos ter a mesma equidade nas transmissões da televisão aberta e na internet, pois os nossos atletas merecem e os brasileiros provaram que amam e se orgulham do esporte paralímpico.