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"A música passa, a obra fica. E eu resolvi ir pela parte que fica", diz Tatau, dono de sucessos da música brasileira
Entretenimento
Publicado em 05/10/2024

Fonte: Holofote - Bahia Notícias - Por Bianca Andrade

TatauFoto: Divulgação

 

Dono de um catálogo com 141 obras musicais registradas no Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), o cantor Tatau personifica a lista dos maiores compositores da Bahia, com canções feitas para os mais diversos ritmos e artistas.

 

Quem ouve alguns dos maiores sucessos de Pablo do Arrocha, ou da banda carioca Sorriso Maroto, por exemplo, não imagina que o “coração sofredor” por trás de cada um desses hits é o de Gilson Menezes Santos Dorea. 

 

Mas calma, apesar de falar sobre as dores do amor, do futuro prometido e até mesmo sobre ser o dono da zorra toda, as mais de 140 músicas compostas pelo artista não são biográficas. Então, se existe a curiosidade em saber por quem Tatau estava sofrendo quando escreveu 'Contato', saiba que não foi sobre ele. “99% das minhas músicas não são pessoais. Eu não faço música sobre mim, é algo que eu não curto. Gosto muito de falar sobre a história dos outros, amo criar histórias. Fiz 'Dessacanear', por exemplo, inspirada no filme 'Diário de Uma Paixão'. Gosto dessa coisa do romance e do imaginário.”

 

 

Em entrevista ao Bahia Notícias, Tatau fez uma viagem no tempo para o início da carreira como compositor em uma comemoração ao Dia do Compositor Brasileiro, celebrado no dia 7 de outubro, e falou sobre como escolheu esse caminho para seguir na arte.

 

“Cantar na minha vida sempre foi o plano B, eu achava que era algo muito difícil e, portanto, eu comecei na minha carreira como um compositor, ali por volta das 15, 16 anos. Comecei muito influenciado pelos meus ídolos da época. Já tinha uma turma que fazia canções para os blocos afro, Tonho Matéria, Itamar Tropicália, mas eu achava muito difícil, porque eles faziam um samba tema, que os compositores recebiam as apostilas e tinham que estudar para escrever a música. Eu era muito preguiçoso e optei em fazer samba poesia que era outra categoria dos blocos”, conta.

 

Tatau aponta a composição 'Protesto Olodum', de 1985, como o grande marco na carreira como compositor e agradece a Betão e Valter, do Olodum, pelo apoio e por levarem a música para a banda. Para o artista, foi com aquela música, gravada inicialmente pela Banda Mel, e depois popularizada nas vozes de outros artistas, que veio a virada de chave para entender que a composição era o caminho a se seguir.

 

 

“Foi ali que eu percebi que eu precisava estudar a minha arte. Eu fazia as composições sem ter o conhecimento técnico sobre muitas coisas. Quando eu me descobri como um compositor que tinha um envolvimento com a população, no sentido de coisas edificantes, resolvi investir e comecei a me especializar.”

 

Segundo Tatau, foi naquele momento também que ele entendeu a importância da obra musical, como gosta de chamar, e prezou por composições que contassem histórias e marcassem gerações. “Eu comecei a me envolver com o mercado e na minha concepção, existe música e existe a obra. A música ela passa, a obra fica. E eu resolvi ir pela parte que fica”.

 

A excelência na entrega se dá pela dedicação, mas também pelo repertório cultural vasto de quem se debruça na composição. “Eu ouvia os melhores, eu digo para mim mesmo: 'Cara, eu só aprendi essa arte porque eu tomei café com Elis Regina, almocei com Emílio Santiago e jantei com Djavan'. São referências que a gente não pode deixar passar”.

 

 

Ao BN, o artista explicou como funciona o processo de composição dele e revelou já ter feito músicas durante uma viagem de Guarajuba para Salvador, algo que dá em torno de 1h10 minutos de estrada. A canção foi para Pablo, o artista que mais gravou Tatau, com 13 músicas no repertório.

 

“Um grande compositor, ele tem que ser criativo, tem que mexer o imaginário das pessoas e eu acho que a gente está muito bem abastecido. Eu gosto de contar histórias e de ir pelo diferente. Simone e Simaria gravaram uma música minha chamada '126 Cabides'. Na época de compor eu fiquei imaginando quantas músicas sobre cabides existiam. Eu pesquisei e eram poucas, então fiz por isso. Já com 'Futuro Prometido', eu brinquei ali nas jogadas. Esse é o diferencial, o que chama o público e prende.”

 

 

O repertório de composições de Tatau vão do arrocha ao axé, passam pelo sertanejo e também pelo pagode. O artista é responsável por sucessos como 'Pa Pum' de Simone e Simaria; 'Bilu Bilu' de Pablo; 'O Dono da Zorra Toda' de Léo Santana; 'Claudinha Bagunceira' de Claudia Leitte; 'Tem Xenhenhem' de Psirico e mais.

 

“Eu sempre fui ousado para compor. Tenho as músicas do Ara Ketu, Claudia Leitte já me gravou, Bell, Ivete, a Bahia do Axé, quase todo mundo já me gravou. Eu gosto de compor, mas eu vou na contramão do mercado e sofro um pouco mais por conta disso, mas se eu conseguir acertar, a chance dessa música ter longevidade na história de um artista é muito grande. Não penso em música de forma passageira, eu sou um contador de história.”

 

Foto: Divulgação

 

Reconhecido pela obra com troféus como o Bahia Folia por Música do Carnaval com 'Araketu é Bom Demais' em 1995 e 'Tem Xenhenhem' em 2015, Tatau afirma que não faz uma música com a preocupação dela ser hit. Questionado sobre uma das maiores surpresas com a música, o baiano citou a faixa 'Futuro Prometido', interpretada pela banda Sorriso Maroto, como um dos sucessos improváveis.

 

“Ela ficou mais de um ano e meio em primeiro lugar no Brasil. Eu sabia que o Sorriso Maroto estava bem, foi logo no começo, mas eu não imaginava que ficaria por tanto tempo no topo. Todas do Sorriso foram uma grande surpresa e elas continuam no repertório da banda até hoje. É muito bom saber disso.”

 

 

Atualmente, Tatau trabalha com o projeto 'Só As Minhas', onde canta as principais composições em ritmo de arrocha. Com o 1º Volume lançado, o artista conta que o público ainda se surpreende ao descobrir que as músicas são dele.

 

“As reações do público na hora são engraçadas. E são dois choques, o primeiro por eu cantar arrocha e o segundo por descobrir que a música é minha. Eu pensei em colocar o nome do projeto assim para não ter que explicar que as canções são minhas, mas não tem jeito”, disse aos risos.

 

Quanto ao debate sobre os direitos autorais, Tatau afirma não ter mais cabeça para brigar sobre essa situação. O artista diz confiar na Lei 9.610/98, e para ele, foi o melhor caminho para não se desestimular com o mercado. “É uma briga eterna de muitos compositores. Eu quero acreditar que o que eles fazem é o melhor para a gente e o justo”.

 

A lei de direitos autorais brasileira garante ao criador e demais artistas a remuneração pelo uso de suas músicas quando elas forem utilizadas por terceiros. O Ecad afirma que todo lugar que usa música publicamente deve pagar direitos autorais aos titulares.

 

Para Tatau, o 'Futuro Prometido’ para a composição no Brasil pode ser promissor, se a vaidade ficar de lado. Atualmente, o artista cita a sede por sucesso e a interferência tecnológica como perigos para a arte da composição.

 

 

“Não tenho pressão nenhuma para produzir uma música para o Carnaval porque eu quero que ela faça parte de todos os momentos do ano por muitos anos. Hoje temos um mercado muito competitivo e com as famosas 'panelinhas', tem quem começa a carreira por agora e quer apagar quem já tem 30 anos de sucesso e não é bem assim”.

 

Apesar dos pesares, o cantor acredita no peso da história e no potencial da nova geração de produzir música boa, ou melhor, obras musicais. “Quando encontramos algumas brechas é o momento de deixar a nossa marca. O Brasil está bem servido de compositores que querem fazer história.”

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