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Setembro Amarelo: morte de Walewska Oliveira reacende debate
Saúde
Publicado em 27/09/2023

Sílvio Tudela 

A trágica morte da campeã olímpica Walewska Oliveira no início da noite do dia 21, após cair do 17º andar do prédio em que vivia, em São Paulo, parece colocar um dedo na ferida justamente no importantíssimo “Setembro Amarelo”.

A campanha de muita visibilidade neste mês visa conscientizar as pessoas sobre o suicídio e também evitar que ele ocorra a partir do agravamento de quadros principalmente de nervosismo, ansiedade, síndrome de pânico e depressão. O suicídio é a principal hipótese investigada pela polícia no caso da morte da jogadora.

Considerada como a meio de rede com melhor passe na história do vôlei brasileiro e um dos grandes nomes do esporte mundial, Walewska Oliveira foi revelada pelo Minas Tênis Clube em meados da década de 1990. Ela rapidamente chegou à Seleção Brasileira e, com a camisa verde-amarela, foi medalhista de bronze em Sydney-2000, com apenas 21 anos, prata no Mundial de 2006 e em duas edições da Copa do Mundo, e foi decisiva nos três Grand Prix que o Brasil venceu antes de conquistar a principal glória de sua carreira: o ouro olímpico em Pequim-2008, o primeiro do vôlei feminino brasileiro.

Infelizmente, a morte prematura da central Walewska Oliveira, que parecia feliz, bem-sucedida e realizada através de seus sorrisos e participações sociais, é apenas a ponta do iceberg das questões de saúde mental que envolvem nossos atletas, treinadores e dirigentes, seja no Brasil ou no exterior, em todas as épocas.

A vitoriosa atleta americana Simone Biles colocou em destaque e no centro do mundo os desafios e abusos no esporte durante os Jogos Olímpicos de Tóquio, quando desistiu das competições porque a cabeça não andava bem. Ela voltou a competir após dois anos de pausa para cuidar de sua saúde mental, mas revelou ainda ter medo de praticar ginástica.


				
					Setembro Amarelo: morte de Walewska Oliveira reacende debate
Foto: Reprodução / Redes Sociais

No mesmo ano de 2021, a tenista japonesa Naomi Osaka, que venceu quatro Grand Slams e chegou a derrotar a americana Serena Williams na final do US Open de 2018, abandonou o torneiro de Roland Garros para cuidar de uma depressão.

Recentemente presenciamos o caso de Richarlison de Andrade, conhecido pelo seu apelido Pombo, que teve um curto-circuito emocional durante as duas primeiras rodadas das Eliminatórias 2026. Apesar de muito criticado pela sua “fraqueza emocional”, o jogador teve a hombridade de se expor e dizer que algo não estava indo bem com a cabeça dele.

Não faz muito tempo e vimos na própria Seleção Brasileira, mais precisamente na Copa do Mundo de 2014, um interminável descontrole emocional dos nossos jogadores, com choros e lágrimas por todos os lados, do momento de execução do Hino Nacional ao apito final. E isso tanto nas vitórias fáceis como nas dificílimas e, obviamente e até previsível, na eliminação frente à Alemanha no “Vexame do 7 a 1”, quando a equipe simplesmente desmoronou em campo. A situação voltou a se repetir, em menor grau, nas eliminações dos Mundiais de 2018 e 2022.

Para não ficarmos em casos mais recentes, é preciso lembrar também a triste instabilidade do incomparável Adriano Leite Ribeiro, o Imperador, que pareceu conviver com uma tristeza profunda ao mesmo tempo em que brilhava nos estádios e até hoje é criticado injustamente por isso.

A CBF vem errando há muito tempo em não levar para a comissão técnica das seleções masculinas e femininas uma equipe de psicólogos capaz de lidar com a enorme pressão e as angústias individuais.


				
					Setembro Amarelo: morte de Walewska Oliveira reacende debate
Foto: Reprodução / Redes Sociais

Esta omissão tem custado muito caro e nem mesmo o fato de Fernando Diniz, técnico interino da equipe masculina, ser formado em Psicologia pode ajudar, pois ele não foi escolhido para cuidar da saúde mental de seus liderados, mas para comandar a equipe como um todo.

Cabe também uma crítica aos treinadores, principalmente os da velha guarda, que parecem não acreditar na importância desse profissional e fazem questão de confundir o seu papel de técnico com o de pai e do próprio psicólogo. Para o psicólogo clínico Marcus Vinícius Barbosa da Silva e atual gestor do Caps lll Jardim Armação, o estresse e a enorme pressão a que são submetidos certamente afeta o desempenho esportivo e a saúde geral dos atletas profissionais.

“É importante ressaltar que a saúde mental não é apenas a ausência de problemas, mas também a capacidade de lidar com a pressão de maneira saudável, e o papel do psicólogo esportivo se revela um apoio crucial nesse momento”, explica.

De acordo com ele, esse suporte especializado pode ajudar o atleta a desenvolver algumas habilidades psicológicas, como o controle da ansiedade, o foco, a resiliência e a autoconfiança frente aos desafios mentais que serão postos à prova.

Para o psicólogo, um psicólogo esportivo pode atuar nas competições importantes, após derrotas difíceis ou durante graves lesões, que chegam a ser muito perturbadoras para os atletas.

“O apoio psicológico é uma forma proativa e uma parte integrante desse treinamento e desse desenvolvimento como um todo. As pessoas envolvidas nesse processo precisam se conscientizar que procurar a ajuda de um psicólogo não é sinal de fraqueza; mas, muito pelo contrário, é uma demonstração de cuidado com a saúde mental e de respeito consigo mesmo”, finaliza.

Centro de Valorização da Vida

Caso você esteja pensando em cometer suicídio, procure ajuda especializada como o Centro de Valorização da Vida (CVV) e os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.

Imagem ilustrativa da coluna Tabus, tretas e troças com Sílvio Tudela
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