Cerca de 42% da água tratada é desperdiçada na Bahia, conforme o “Ranking do Saneamento 2024”, documento feito pelo Instituto Trata Brasil, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público voltada para questões de saneamento básico no Brasil. Esta porcentagem corresponde a perda de parte da água durante a passagem pelas tubulações de distribuição e, apesar de estar abaixo da média nacional, ainda não é o ideal.
Nesta sexta-feira (22), celebra-se o Dia Mundial da Água, data estabelecida pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e que funciona como ferramenta para discutir questões ligadas aos recursos hídricos e saneamento básico. Publicado na quarta-feira (20), a 16ª edição do Ranking do Saneamento apresenta uma série de dados que podem ajudar as gestões públicas a entender o cenário do saneamento no país e agir com mais precisão.
Apesar do levantamento de dados estatais, o estudo foca na análise das 100 cidades mais populosas do Brasil. De acordo com o documento, em Salvador, a perda de água tratada por ligação, ou seja, através das tubulações, é de 726,21 L/dia. O dado, que leva em consideração indicadores do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), é de 2022 e apresenta uma redução de 78% em comparação ao registrado na capital baiana entre 2018 e 2021.
Entretanto, os desperdícios comuns ao transporte da água não são os únicos impactos que o fornecimento tem recebido em Salvador. Nas últimas duas semanas, rompimentos de tubulações devido a obras na cidade e outras fatalidades do tipo acenderam um alerta para a perda de água tratada.
Entre a perda de água tratada e os incidentes, a população segue sendo a primeira impactada pelos percalços no fornecimento de água. Além disso, quando se fala de futuro, uma série de problemas ambientais, e até mesmo financeiros, podem recair sob a população se os índices de desperdício não foram consecutivamente reduzidos.
Quais as principais causas para o derperdício de água
Entre os fatores que podem influenciar no índice de perda de água durante a dristribuição estão movimentação do solo, impacto do trânsito ou de obras na via e a fadiga do material, por exemplo. A melhora na infraestrutura de distribuição é a forma de lidar com essa perda, que acontece em toda rede de distribuição de água, não pode ser completamente zerada, mas que precisa diminuir.
Para além dos 726,21 L/dia perdidos diarimente, Salvador enfrentou rompimentos de tubulações de grande porte na região da Lucaia, nos dias 8 e 15 de março, e na rua 11 de novembro, no bairro de Santa Cruz, no dia 12. Por pelo menos um dia, as localidades foram fortemente impactadas: moradores ficaram sem água, ônibus deixaram de passar devido aos estragos, além dos transtornos no tráfego.
Nesses casos, uma grande quantidade de água jorra pelas encanações, ao ponto de alagar os locais, como aconteceu na Lucaia. Em nota ao iBahia, a Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) informou que "busca enviar equipes assim que é informada, para realizar o reparo com a maior brevidade possível. Para isso, mantém equipes de plantão noturnas para agilizar o atendimento das ocorrências."
Há também vazamentos subterrâneos, que são imperceptíveis, mas que afetam a distribição de água e, consequentemente, fazem parte do índice de perda. Para amenizar esse impacto, a Embasa "mantém sistemas de monitoramento para detectar anomalias e realiza pesquisas na rede, com técnica de geofonamento, para descobrir o ponto exato do vazamento e possibilitar sua correção".
"O desperdício contribui para a elevação dos custos de tratamento e distribuição de água, o que pode se refletir em aumentos nas contas de água dos consumidores. Além disso, a escassez hídrica resultante desse desperdício pode levar a restrições no fornecimento de água, afetando diretamente a qualidade de vida das pessoas", pontua Roberto Miranda, diretor geral da T&D sustentável de Salvador, startup que busca soluções sutentáveis de saneamento.
Segundo o especialista, esse tipo de desperdício pode impactar diretamente na realização de atividades básicas do dia a dia, como higiene pessoal e preparo de alimentos. Setores econômicos como o turismo e a agricultura também podem ser afetados pelos impactos no fornecimento.
A escassez dos recursos hídricos é uma das principais preocupações ambientais quanto a perda de água potável. "Essa escassez pode afetar também ecossistemas aquáticos, colocando em risco a fauna e flora locais, além de comprometer a disponibilidade de água para outros usos", enfatiza Roberto.
Segundo a Embasa, a empresa realiza uma série de ações de combate as perdas. Monitoramento e substituição periodica de tubulações estão entre as iniciaticas tomadas. "Como forma de prevenir vazamentos, a empresa promove a substituição periódica de suas redes, priorizando os trechos mais antigos ou vulneráveis. No caso do volume de água que é consumido sem registro no hidrômetro, que compõem as chamadas “perdas aparentes”, a Embasa investe em combate a fraudes, fiscalização e campanhas para regularização de ligações clandestinas", diz a Embasa, em nota.
Metas
Até 2033, o Brasil tem a meta de fornecer água tratada para 99% da população, bem como coleta e tratamento de esgoto para 90% dos brasileiros. Esses objetivos são definidos pelo Marco Legal do Saneamento, a Lei Federal 14.026/2020.
Para o Instituto Trata Brasil, o momento é de alerta, uma vez que não houveram mudanças nos grupos das melhores e piores cidades do Brasil entre as pesquisas publicadas. No caso de Salvador, apesar da queda de 17% no índice de perda por distribuição, o momento é de atuação para melhoria dos serviços e infraestrutura.